domingo, fevereiro 25, 2007

Ilha de Marajó

A aventura começou bem cedo, no dia 14 de fevereiro.
5h30, madrugada, já estávamos em trânsito para o porto.
6h35, o barco Otávio Oliva, que nos levaria à ilha maravilha, zarpou.
A viagem foi tranqüila. Houve algum balanço, mas não fez efeito sobre nós. Havíamos tomado Dramin na véspera.
Três horas depois, o barco atracou no porto de Camará. A aproximadamente 30 km dali, em Salvaterra, estava a Pousada dos Guarás, onde nos hospedamos. A pousada era bem agradável: quartos amplos, piscina, uma imensa praia quase particular - que, embora de rio, tinha sonoras ondas - e comida boa. Só deixava a desejar na limpeza...
Assim que chagamos à pousada, Ezequias, o guia, nos informou a programação dos passeios:
  • 14/02 - 15h30 Vila de Joanes
  • 15/02 - 14h Soure e Fazenda de Búfalos
  • 16/02 - pela manhã, passeio fluvial
Tínhamos, pois, todo aquele resto de manhã e início de tarde livres. Decidimos ir até a Praia Grande, em frente à pousada. Uma chuva rápida adiou nosso plano. Fomos assim que passou a chuva. Dali se avistava a vila de Salvaterra, o farol de Soure e algo da vila de Soure.
Almoçamos e, meio bêbadas de sono - efeito do Dramin... e das duas Cerpas que acompanharam a comida - tiramos um cochilo antes do passeio da tarde.
Na vila de Joanes, distante 18 km da pousada, visitamos as ruínas da primeira igreja fundada pelos jesuítas no século XVII e demolida por ordem do Marquês de Pombal no século seguinte.

Fomos também à praia de Joanes.
Seguimos depois para o centro de Salvaterra. Ali, à beira do rio , está a Igreja de N. S. da Conceição, construída no início do século passado e restaurada há pouco tempo. Tinha carinha de nova.

Andamos um pouco pelo comércio de Salvaterra. Há coisas curiosas por ali, como um estúdio de gravação de CDs, uma escola de música.
De volta, passamos pela lojinha de artesanato de Dona Socorro, que leva o nome antigo da ilha: Mbara-yó.
Segundo informação de Ezequias, nosso guia em Marajó, Mbara-yó significa barreira do mar. A idéia é que o arquipélago forma uma barreira que impede o mar de chegar à terra.
Nessa noite, choveu muito. E ainda pela manhã chovia forte, trovejava. Chegar ao restaurante para o café da manhã foi uma aventura entre as poças de água que se formaram no gramado.
Nossos planos para essa manhã - caminhar pela praia até Salvaterra e esperar Ezequias por lá, para o passeio da tarde - foram por água abaixo, literalmente. Ficamos no restaurante da pousada, um grande galpão aberto, lendo, escrevendo, fotografando búfalos e ouvindo as ondas da praia. Perto da hora do almoço, a chuva parou. Demos uma volta pela praia, comemos algo e saímos para o passeio da tarde.
Para ir a Soure é preciso atravessar em balsa o rio Paracauary. Soure é a capital do Marajó. Maior que a já conhecida Salvaterra. Na rua do comércio, alguns nomes curiosos: Bar Bico Molhado, Mercadinho Amiguinha...
Fomos até a Praia de Pesqueiro, visitamos a Fazenda Bom Jesus, lojas de artesanato em couro e cerâmica: kit turístico completo.
Na fazenda, onde Dra. Eva - uma das donas, veterinária - cria búfalos e faz reintegração de animais apreendidos, houve passeio de búfalo para quem quis. Declinei. Depois, um pequeno lanche servido pela mãe da Dra. Eva.

Voltamos ao hotel no início da noite. Mais tarde, show de carimbó no restaurante do hotel.
Dia seguinte, o último na ilha. Pela manhã, chovia e parava, chovia e parava... Saímos para o passeio fluvial ainda com um pouco de chuva.
A bordo do barco João Paulo, percorremos parte das duas margens do Rio Parauacary e um igarapé próximo dali. De volta, ficamos no cais do centro de Salvaterra. Dali para a pousada, justo a tempo de preparar a bagagem, almoçar e sair rumo ao Porto de Camará.
Mais três horas no mesmo Otávio Oliva da vinda e estávamos de volta à Capital.
Gostamos de conhecer um pouco de Marajó - o arquipélago com 12 municípios, 250 mil habitantes, muitos búfalos e nenhum guará - mas, na verdade, não foi tudo o que esperávamos...
Dali a dois dias nossa viagem teve seu fim, num vôo da TAM para Congonhas, com escala em Brasília.
Nós conseguimos!

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Belém, a capital

A tarde do domingo, 11 de fevereiro, ia pelo meio quando chegamos a Belém.
Nosso hotel - Grão Pará - ficava no centro da cidade, justo em frente ao belíssimo Theatro da Paz e ao lado da matriz do Banco da Amazônia.
Foto: Ana Oliveira
Cidade grande!
Começamos pelo Shopping Iguatemi, próximo ao hotel, em busca de um bom lugar pra comer, depois de tantos dias da comida sem graça do barco. Não encontramos nada de excepcional.
No dia seguinte, com Zé e Pedrina - companheiros do barco - andamos pelo Ver-o-Peso e Estação das Docas.
Voltamos mais tarde à estação para curtir os bares e restaurantes que estavam fechados pela manhã. Nos sentamos na choperia Amazon Beer para experimentar o chopp de bacuri e não saímos mais de lá. Ana ligou para Rosângela - amiga internauta poetisa - e ela foi nos encontrar lá, com Luciana e Célia. Foi bom!
O chopp de bacuri é curioso. Tem gosto meio adocicado e cheiroso. Saímos de lá tarde da noite e Célia ainda nos levou de carro para mostrar vários pontos turísticos da cidade que poderíamos conhecer melhor nos dias seguintes. Um verdadeiro city tour noturno!
No outro dia, com Rosângela e Luciana, conhecemos a Basílica de Nazaré, o Parque da Residência, o Mangal das Garças e uma cidade vizinha: Icoaraci.
No parque, almoçamos no gostoso e bonito Restô do Parque. No Mangal, subimos a uma torre de onde se via a cidade toda. Foi aí também que tivemos nosso primeiro e único contato com os guarás. Pensávamos que encontraríamos muitos deles na Ilha de Marajó, mas eles estavam de férias...
Em Icoaraci, passeamos pela orla do rio visitando cada lojinha de cerâmica e fomos à Pizzaria Vitória. Pra quem vinha comendo mal pelos barcos amazônicos, isso tudo foi uma festa também para o paladar.
Na manhã quente do dia 13 de fevereiro, visitamos o Theatro da Paz. Havia ensaio da orquestra no momento da nossa visita, mais uma vez... Como já acontecera no Teatro Amazonas, em Manaus.
Foto: Ana Oliveira
Esse belo teatro foi erguido em 1878 com requintado material europeu: mármore de Carrara, cristais franceses... Um luxo!
Demos uma escapada de Belém para passar três dias na Ilha de Marajó. Conto tudo num próximo capítulo... Mas já saímos da capital com a promessa de mais programação turístico/gastronômica com Rosângela e Luciana.
E cumprimos!
Na volta, passamos o sábado em movimento:
  • Igreja de Santo Alexandre e respectivo Museu de Arte Sacra;
  • Forte do Presépio com Museu do Encontro;
  • Casa das 11 janelas e seu restaurante para o almoço;
  • Sorveteria Cairu, com seu sorvete delicioso;
  • Loja de informática Sol e seu café, moderníssimos;
  • Campus da UNAMA e da UFPA;
  • Janela para o rio, lugar à beira rio com barraquinhas de tapioca;
  • Locadora de vídeo lindíssima de cujo nome já não me lembro mais;
  • Uma passadinha pra conhecer Daniel, filho de Rosângela;
  • Espaço São José Liberto e seu pólo joalheiro
  • E, finalmente, um sanduíche na Ester, lugar simples, freqüentado por nossas guias/anfitriãs.
Ufa!
Quando voltamos ao hotel, só houve tempo pra um banho e cama.
Dia seguinte, o último por lá, chovia!
Com a bagagem arrumada, tentamos dar um volta pela feirinha dominical da praça da República, logo em frente ao hotel. Foi praticamente impossível! Voltamos molhadas.
Meio-dia e meia, Rosângela e Luciana vieram nos apanhar para o último passeio: aeroporto, com direito a lanchinho na praça de alimentação. E passeio pelas lojinhas do Aero-shopping. Foi aí que encontrei algo que procurava há algum tempo: óculos de sol com armação roxa. Lindo, de marca - Triton - e barato!!!!!!
Estávamos com sorte, nem o vôo atrasou.
Era domingo de carnaval!

terça-feira, fevereiro 20, 2007

No Estreito de Breves


Dez de fevereiro. Meio da tarde. Debruçadas na grade do convés do Santarém, acompanhávamos atônitas as manobras que Giovan, 9 anos, e Jailson, 11, faziam para abordar, com sua pequena canoa, o nosso barco.
Aproximaram-se corajosos, prenderam um gancho de ferro na lateral do barco, passaram uma corda. Pronto! Já estavam navegando conosco. Jailson subiu ao barco e tratou da amarração, enquanto Giovan permaneceu no barco. Com uma força insuspeitada para um garoto de seu porte, Giovan sustentava a corda que prendia a canoa ao barco. Abaixo deles, a água rugia... Cena emocionante! Ana e eu fotografávamos entre lágrimas.
Terminada a operação de abordagem, os garotos subiram ao barco para vender os produtos que traziam na canoa: cacau, ingá e pupunha. Venderam tudo. Posaram para fotos, ganharam uma mochila velha, roupas.
Acompanhei o momento da contabilidade: o produto das vendas somou R$ 9,00.
Nossos piratinhas do século XXI passaram algumas horas no barco. E nem vimos quando nos deixaram...
Como eles, outros tantos barcos nos abordaram. Mais de dez. E outros mais, que não conseguiram agarrar o barco.


Vendiam palmito, pupunha, banana, cacau, cupuaçu, açaí. Arriscavam suas vidas para ganhar tão pouco!
Um a um, foram nos deixando. Quando a última canoa partiu já era noite.
Outro triste espetáculo era o das crianças e mães, habitantes das casinhas à margem do estreito, que remavam até perto do barco, enfrentando a enormidade do Amazonas agitado pelos motores do nosso barco, para pedir roupas. Já esperávamos por isso e tínhamos destinado quase toda a roupa que usáramos até então para esse momento. Comovidas, ainda na última hora despimos algumas peças para atirar aos canoeiros-mirim. Havia pessoas no barco que traziam sacolas e mais sacolas de roupa para jogar ao rio. As ofertas eram acondicionadas em sacos plásticos que eram atirados ao rio. Os canoeiros os recolhiam.


E esse pede-e-joga se estende por muito tempo.
Ainda no dia seguinte, enquanto aguardávamos o café da manhã, alguns passageiros atiravam aos moradores roupas e brinquedos retirados de um container vindo não se de onde.
Assim vivem alguns brasileiros.
Serão infelizes?
Ou os infelizes somos nós?
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Atualizado em 20/10/2014

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

A bordo do "Santarém"

Atrasos devem fazer parte do protocolo dos barcos amazônicos. O horário regulamentar de partida do Santarém é meio-dia. Nesse 9 de fevereiro, a previsão de largada era 13h. Zarpamos às 14h45.
Embarcadas, assistimos à entrada de muita gente, carga, planta, colchão.
No mesmo cais estava atracado o barco Nélio Corrêa, de ida para Manaus. No Nélio também embarcava de tudo... até uma parte de um trator, que deu o que ver para ser acomodada no convés inferior do barco.
Cada barco com seus costumes, sua rotina...
O 11 de maio, menor e mais simples que o Santarém, tinha lá as suas vantagens... e desvantagens.
No Santarém não havia o fenômeno que chamei sem-rede. A comida era servida num refeitório no fundo do segundo convés. Era um lugar feio, sujo e quente onde reinava um marinheiro mal-humorado, que nos servia uma comida sem graça e repetitiva. Além disso, para chegar ao local, era necessário cruzar todo o espaço destinado às redes desse convés. Assim, três vezes por dia caminhávamos por entre os redeiros classe A, rumo ao refeitório.
Chamo-os redeiros classe A, porque os que estavam nesse convés pagavam mais para ter um ambiente com ar-condicionado. Entretanto, as janelas permaneciam abertas o dia todo... não havia ar que vencesse o calor. E os redeiros que não estavam na direção das janelas ficavam sem luz e abafados.
Nosso camarote ficava também no segundo convés. Era semelhante ao do 11 de Maio. O banheiro era ligeiramente maior e não cheirava mal. O ar condicionado era gelado... Nossas mantas trazidas de Manaus foram utilíssimas. Os beliches e o corredor ao lado deles eram mais estreitos. Mas tinha uma janela para o rio! Os lençóis que compramos em Santarém vieram a calhar, a roupa de cama era bastante duvidosa. Luxo dos luxos: diariamente uma camareira limpava os camarotes!
No terceiro convés ficavam as suítes, um bar fechado - com algumas mesas, jogos e música ruim - além de uma parte externa com chuveirões.
Triste mesmo era o primeiro convés, onde havia uma enorme concentração de redes e um bar com música, bêbados e cheiro de pipoca de microondas o dia todo.
A carga ficava toda no porão. O barulho dos motores e a vibração produzida por eles eram bem menores que no 11 de Maio.
Celular... só funcionou na saída de Santarém.
Primeira parada: Monte Alegre. Quase 9 da noite. Pensei em descer à terra. Chovia forte! Parada rápida, somente embarque e desembarque de passageiros.
Dia seguinte: acordamos justo na hora da atracação em Almeirim, 7 da manhã. Dessa vez desci à terra. No cais, vendia-se queijo - de manteiga e de coalho. Botos alegres davam cambalhotas atrás do barco. Num zás-trás o barco partiu e, nesse 10 de fevereiro, só parou em Breves, às 23h, quando já estávamos recolhidas ao nosso gelado camarote. Foi um dia inteiro navegando. Entramos no estreito de Breves no meio da tarde. Foram horas e horas de agitação e emoção. Era a parte mais esperada da viagem. Conto TUDO num post especial...
Oito da noite, sob um céu estrelado, sentimos uma diminuição na rotação dos motores. Entrávamos na parte mais estreita do estreito de Breves. Navegamos aproximadamente uma hora com as margens bem próximas ao barco. Pena que era noite!
Na manhã seguinte, a última a bordo, fomos surpreendidas com um café da manhã sem pão... Fim de festa!
Nesse dia viajaríamos pela Baía de Guajará. Isso prometia muito balanço no barco e... enjôo. Para prevenir, tomamos Dramin na noite anterior. Não balançou. Ou será que Dramin dá alucinações?
Bem, alucinante mesmo foi o porto onde o barco atracou na chegada a Belém, depois de 48 horas de viagem. Longe da cidade, no meio de uma favela com um córrego malcheiroso. É o porto particular da companhia proprietária do Santarém e do Nélio Corrêa. Outros barcos param em um porto mais central... Pegamos um táxi até o hotel. Depois soubemos que um dos nossos companheiros de viagem foi assaltado por ali e jogado no córrego. Voltou ao tal porto particular sem a bagagem e todo enlameado.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Tomando decisões

Por aqueles dias, tínhamos que tomar uma decisão quanto à próxima etapa da viagem. Esperar o barco do sábado ou ir antes, de avião?
A decisão era difícil.
Ir de avião custava praticamente o mesmo que ir de barco. Tinha a vantagem de economizar tempo. Mas tempo pra quê? Bem, teríamos mais folga para passear por Belém e fazer outros programas a partir de lá.
Ir de barco significava ter que ficar encalhadas em Alter ou Santarém até o sábado e chegar a Belém somente na segunda-feira, já que a viagem durava 48 horas.
Mas significava também mais aventura: a própria viagem de barco e o caminho, que incluía o estreito de Breves, sobre o qual já ouvíramos falar e que aguçava a nossa curiosidade.
Diziam que durante a longa passagem por ali, canoas com crianças se aproximavam do barco para vender coisas e pedir roupas. Tínhamos até roupas preparadas para jogar aos pequenos canoeiros...
Além disso, havia a paisagem que seria bem diferente das anteriores, já que o barco andava muito mais próximo às margens por se tratar de um estreito.
Tudo isso pesava na nossa decisão.
Depois de muito ponderar, acabamos decidindo pelo barco. Afinal, fora para isso que deixáramos nossas casas.
Antes de ir para Alter do Chão, já havíamos deixado reservado um camarote no Rodrigues Alves, um barco que partia no sábado. Na verdade, tínhamos preferência pelo Santarém, que, além de ser melhor no ranking dos barcos, zarparia um dia antes. Mas os vendedores de passagens diziam que ele já vinha lotado de Manaus, não havia sequer um camarote disponível.
Assim, nos conformamos com o Rodrigues...
Bem, dizem que sou teimosa. Sou mesmo! Mas às vezes minha teimosia resulta em vantagem. Foi o que aconteceu dessa vez: quando saímos de Alter, um dia antes do planejado, propus à Ana irmos ao porto na manhã de sexta-feira e tentar, in loco, conseguir um camarote no Santarém. Ela topou, assim meio sem convicção. Só pra não me contrariar...
Fomos!
E... bingo!
Havia vários camarotes disponíveis e a um preço menor do que o que pagaríamos no Rodrigues Alves.
Topamos na hora!
Deixamos tudo acertado e fomos nos preparar para a viagem. O Santarém zarparia às 13 horas.
Eis um caso de teimosia premiada!

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

De volta a Santarém

Chegamos a Santarém pela hora do almoço.
Marcio nos ajudou a encontrar um hotel. Começamos pelo Rio Tapajós: lotado. Rio Dourado, lotado também. Acabamos aceitando um quarto sem graça no City Hotel.
Mas o destino nos reservava, mesmo, um retorno ao Hotel Mirante, o mesmo no qual nos hospedáramos dias antes.
Foi assim:
Deixamos nossa bagagem no City e saímos. Fomos a um cybercafé. Andamos pelo comércio da quente Santarém. Compramos bermudas baratas. Entramos numa loja de departamentos - Y. Yamada - e compramos lençóis e fronhas para a próxima etapa da viagem de barco. Comemos pastéis. Tomamos sorvete. Voltamos ao City. Desejávamos apenas um bom banho e voltar a pôr o pé na rua pra jantar no Dona Vinoca. Surpresa! Não havia água em nosso banheiro. Na portaria nos informaram que havia um problema na rua. Iam preparar um balde para nós... Não aceitamos. Dois minutos depois, batiam à nossa porta oferecendo a opção de tomar banho em outro apartamento. Mas não era um problema de água na rua?!?!?!
Queimamos o pé! Saímos imediatamente daquele muquifo, sem olhar pra trás, apesar dos chamados da senhora da portaria.
A menos de 50 metros dali, na mesma rua, estava o Hotel Mirante. Fomos pra lá. Conseguimos um apartamento com vista longínqua para o encontro das águas entre o Amazonas e o Tapajós.
Alegres e banhadas, fomos com Marcio jantar no Dona Vinoca. É um lugar famoso. Dona Vinoca, uma senhorinha local, abre diariamente sua própria casa e serve comidas típicas, num ambiente totalmente doméstico. Comida boa e barata. Experimentamos o vatapá local - servido com jambu e arroz - e a maniçoba. Mais bolinho de aipim com carne moída. De sobremesa, bolo de tapioca. E ainda levamos uma fatia de bolo de aipim para o dia seguinte. Foram quatro pratos e mais os petiscos por R$ 28,00.
Voltamos para o hotel disputando o caminho com as baratas que circulam soltas pelas calçadas irregulares de Santarém.

domingo, fevereiro 11, 2007

Alter do Chão - parte 2

Sete de fevereiro. Aportou em Alter o navio Vistamar, carregado de turistas estrangeiros.
O dia começou com chuva, mas a cidade estava em polvorosa. Tudo estava preparado para receber os visitantes. Na praça os artesãos expunham suas artes quando a chuva deixava. Ouvimos a queixa de um deles: "Eu até gosto de chuva. Mas num dia assim, em que a pessoa vai adquirir uma grana..."
Num momento de estiagem, atravessamos o canal e fomos direto à tenda que havia sido preparada na ilha para receber os gringos. Uma vergonha. Tudo fake pra receber os turistas: dançarinas, vegetação. E eles, bobos, fotografando tudo e todos. Babando...
Pro fim o tempo melhorou e só voltou a chover à noite. Choveu... choveu... choveu sem parar. A ponto de não encontrarmos nemhuma brechinha para ir até a praça, onde no dia anterior havíamos comido uma gostosa pizza de jambu.
Jambu é uma verdura local que dizem ser anestésica. Eu a definiria como uma mistura de escarola com hortelã...
Presas no hotel, comemos no próprio quarto os víveres que tínhamos armazenado nos últimos dias:
  • maçãs trazidas do hotel de Santarém;
  • bolachas compradas de última hora no porto de Manaus;
  • geléias trazidas do avião da TAM;
  • bombons de castanha com cupuaçu, castanhas cobertas de chocolate e docinhos de muruci comprados ali mesmo em Alter;
  • banana frita com catchup e castanhas de caju compradas durante a viagem de barco
  • e água mineral.
Dia seguinte, chovia!
Decidimos voltar a Santarém. Enquanto arrumávamos a bagagem, saiu o sol.
Partimos assim mesmo!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Alter do Chão - parte 1

O trajeto de 38 km entre Santarém e Alter do Chão é feito por ônibus. Por R$ 1,80 pode-se fazer cada trecho, em ônibus comum ou expresso. Fomos com um e voltamos com o outro.
O Hotel Mirante da Ilha já estava reservado para o primeiro pernoite. Dessa vez sim, o nome fazia jus à realidade: do nosso quarto novinho e confortável podíamos ver a Ilha do Amor, o Lago Verde e o Morro da Piroca.
Foto: Ana Oliveira
A Ilha do Amor, nessa época, é uma estreita e longa faixa de areia clarinha, contrastando com o verde das águas. Para chegar ali é preciso atravessar um canal de cerca de 50 metros, de canoa. Há sempre um canoeiro na margem, esperando quem queira ir ou vir. Na ilha há pouca vegetação e malocas - construções de madeira e palha - onde se servem bebida e comida.
Foto: Ana Oliveira
No dia da nossa chegada, um sol forte convidava à preguiça. Além disso, uma desagradável dor de dente me incomodava. Pela manhã, ainda em Santarém, liguei para a dentista em São Paulo e recebi dela a ordem de tomar uma série de antibióticos durante 7 dias, o que significava: nada de álcool nesses dias à beira-rio. Assim, tivemos um dia mais calmo. Só boteco e lojas de artesanato na pequena Alter.
Dia seguinte caía uma chuvinha pela manhã. Quase arrumamos as malas e partimos. Decidimos esperar um pouco mais.
A espera foi recompensada regiamente. Em lugar da chuva apareceu um mormaço gostoso. Atravessamos o rio e fomos para a ilha.
E o dia, que havia começado de maneira pouco promissora, acabou sendo agradabilíssimo: a bordo da lancha John Lennon, pilotada por Ednaldo, saímos em excursão pelo Rio Tapajós, em busca de botos e praias.
Os botos apareceram alegres, dando cambalhotas à nossa frente. As praias não estavam pra banho, uma camada de algas deixava a água viscosa e verdíssima . Bonita só pra ver...
Foto: Ana Oliveira
Voltamos à ilha para o almoço.
À tarde, mais um passeio no John Lennon: Lago Verde e seus igapós - florestas alagadas - onde Ednaldo desligou o motor da lancha, tirou a capota e remou por entre árvores e plantas, até chegar a uma espécie de praça alagada, rodeada de paracutacas - árvores imensas de troncos curiosíssimos.
Foto: Ana Oliveira
Fim de tarde. Ednaldo pilotava sua lancha pelo canal, influente do Tapajós segundo ele, e nos deixava justo em frente ao Mirante da Ilha.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Passando por Santarém

Foto: Ana Oliveira

Chegamos a Santarém no domingo pela madrugada. Chovia. Desembarcamos ali pelas 8 da manhã, depois de um magro café com pão e margarina. Frutas, queijo e presunto do dia anterior desapareceram.
Como primeira providência, tentamos reservar a passagem para a etapa posterior da viagem - Belém - mas não conseguimos.
Caminhamos até o Hotel Mirante - dizem que dista 4 km das docas - evitando o assédio dos guias, vendedores de passagem e taxistas.
O hotel não era tudo o que o seu preço fazia supor e nem mesmo o que o seu nome anunciava: dali não se mirava nada. Mas eram afáveis por lá: nos deixaram entrar antes do horário regulamentar de início das diárias e nos convidaram pro café da manhã. Aceitamos, claro!
Primeira providência, cybercafé. Segunda, ligar para o Márcio, nosso amigo orkutiano santareno.
Márcio veio rapidinho ao nosso encontro. Caminhamos juntos pela cidade ensolarada, quente. Tomamos suco, refrigerante local, sorvete. Mais tarde, em sua casa, comemos um macarrão com atum feito por ele mesmo e pegamos algumas dicas para nossa viagem a Alter do Chão.

Dia seguinte, segunda-feira, a cidade amanheceu caótica: barulho de carros de som, trânsito confuso... a realidade santarena.
Por sorte, estávamos de partida para Alter do Chão, a menos de 40 km dali, mas totalmente diferente da metrópole.
Antes da partida, tentamos mais uma vez resolver a próxima etapa da viagem, sem sucesso! Só havia barco decente para Belém no sábado, e ainda era segunda-feira!

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Navegando pelo Amazonas

O convés superior do 11 de Maio virou um mar de redes e bagagens. Quem chegou primeiro teve a sorte de armar sua rede fora do espaço reservado para as refeições. Esses sortudos podiam ficar tranqüilos dia e noite balançando suas redes acima de suas bagagens. Outros, que chegaram mais tarde, montaram acampamento debaixo das mesas suspensas onde se serviam as três refeições diárias. Para eles, 15 minutos antes de cada refeição soava um apito. Era hora de suspender as redes e afastar a bagagem: as mesas seriam baixadas, por mais ou menos duas horas eles seriam os sem rede.
No convés inferior, junto com a carga - papel higiênico, vasilhame de cerveja, mudanças inteiras, moto, bicicleta, cadeira de rodas, etc. - viajava mais uma turma de redeiros. Ali havia menos redes, um pouco mais de espaço entre elas, estrado para a bagagem e... muito mais calor e barulho dos motores do barco.
No dia seguinte, o mar de redes do convés apareceu pontuado de toalhas de banho, algumas bolsas menores e até uma cabeça de arara seca.
Foto: Ana Oliveira
Para passar o tempo, valia tudo: tirar a sobrancelha usando um CD como espelho, fazer as unhas, ler, ouvir as músicas que os mais diversos aparelhos individuais reproduziam, dormir, fazer artesanato, beber e jogar conversa fora no terceiro deck onde havia um bar com música de gosto duvidoso durante o dia todo e boa parte da noite. Enfim, cada um usava o tempo ao seu bel-prazer. Ana fotografava, fotografava, fotografava... De minha parte, rascunhei os últimos posts desse blog, registrando o que estava vivendo neses dias.
Foto: Ana Oliveira
19 horas depois de nossa partida, avistamos Parintins: a primeira parada. Era hora do almoço. Mais gente e mais carga!
Por volta de 16h30, atracamos em Juruti, já em terras paraenses, debaixo de nossa primeira chuva à bordo. Foi a hora do corre-corre dos sem rede, pois eles eram também sem estrado, o que os obrigava a correr para salvar sua bagagem da água de chuva que escorria pelo chão do barco.
Mais 3 horas e estávamos avistando Óbidos sob uma belíssima lua cheia refletida no Amazonas.

Foto: Ana Oliveira

A primeira parada foi no Posto Policial para verificação dos passaportes dos passageiros estrangeiros. Eram mais de 20. Depois, a polícia subiu ao barco para vistoriar camarotes e bagagens. Liberados, seguimos para o porto de Óbidos. Gente embarcando e desembarcando. Toda a carga de papel higiênico que o 11 de Maio carregava ficou num estrado daquele porto.
Assim que zarpamos de Óbidos, nos recolhemos para nossa última noite sobre o Amazonas, nessa etapa da viagem. Enquanto dormíamos, o barco entraria pelo Rio Tapajós e despertaríamos já em Santarém, nosso primeiro destino.

domingo, fevereiro 04, 2007

O "11 de Maio"

Foto: Ana Oliveira
Preparando a viagem, dias antes da partida, estivemos pesquisando na internet o movimento dos barcos entre Manaus/Santarém/Belém. As informações davam conta da existência de vários barcos, alguns comentários e opiniões de viajantes, mas nada se podia saber com certeza sobre as datas de saída. Assim, foi necessário telefonar ao Porto de Manaus para obter as informações. Sim, no dia 2 de fevereiro partiria dali o 11 de Maio, com destino a Belém e escala em Santarém. Reservei o camarote. Voltamos à internet à procura de informações sobre o barco. Quase nada. Não figurava entre os preferidos dos viajantes blogueiros que contavam suas viagens na net. Apenas um relato de um viajante estrangeiro e uma foto. Nada de muito animador.
Diante disso, chegamos a Manaus decididas a descobrir se havia algum outro barco saindo no mesmo 2 de fevereiro, mas que nos parecesse melhor. Havia! O Golfinho do Mar. Fomos comprar a passagem para o Golfinho. No meio da compra a vendedora nos veio com uma oferta: "não preferem uma suíte no 11 de Maio pelo mesmo preço do camarote do Golfinho?" A diferença entre suíte e camarote: banheiro privativo. Tentador, né? Nos rendemos ao destino. Aceitamos a oferta!
Embarcadas no 11 de Maio, pudemos observar o Golfinho, que saía na mesma hora. Tivemos até uma pontinha de arrependimento: o Golfinho parecia mais bonito e mais vazio. Mera ilusão!
Nossa suíte era mínima. Com ar condicionado, beliche e banheiro privativo mal-cheiroso. O chuveiro era quase em cima do vaso sanitário e a pia, atrás da porta. Mas infinitas vezes melhor que o mar de redes que foi se instalando no convés.
Foto: Ana Oliveira
12h20, zarpamos. Bom! O Golfinho havia saído poucos minutos antes.
Menos de 400 m à frente, paramos no cais do Mercado, justo ao lado do Golfinho. E aí começou a saga: gente, vendedores, móveis, mais gente, mais vendedores, eletrodomésticos, ainda mais gente, ainda mais vendedores, colchões, e mais gente, vendedores, gente, vendedores, gente, vendedores... O convés dos dois barcos superlotou.
Aquela pontinha de arrependimento que nos assaltara, desapareceu por completo.
Saímos do porto do Mercado às 16h30. Foram mais de quatro horas de espera.
Soubéramos disso, teríamos descido à terra para andar mais um pouco pela cidade para ver mais uma vez o escritório móvel, a loja Helena de Tróia, o cartaz Jesus está chegando logo abaixo dos manequins e quiçá almoçar novamente no Fiorentina.
Naquele dia o 11 de Maio não oferecia almoço. E para o jantar, prometiam uma sopa.
Algumas fotos dessa etapa da viagem, estão no link abaixo. Veja lá!
http://carmemsil.fotos.uol.com.br/album9
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Atualizado em 20/10/2014

De passagem por Manaus

Teatro Amazonas - foto Ana Oliveira
Passamos por Manaus como um corisco.
Chegamos num dia e partimos no outro. Teríamos ficado menos de 24 horas na capital amazonense, não fosse o atraso na saída do barco 11 de Maio, que nos levaria a Santarém.
Foi assim:
Chegamos no dia 1° de fevereiro, por volta de uma da tarde, por conta de um pequeno atraso no vôo 3748 da TAM - duas horas apenas! Problemas com o ar condicionado, disseram.
O trajeto de ônibus do aeroporto até o centro da cidade foi rápido. Lá pelas 15h já havíamos dado entrada no Hotel Ana Cássia, ido ao porto resolver a questão da viagem para Santarém no dia seguinte e almoçávamos no Restaurante Fiorentina, indicação da portaria do hotel.
Em seguida, uma caminhada até o Teatro Amazonas, que já havia encerrado as visitas naquele dia. Rumamos então para o Mercado Municipal. Estava em reforma e meio decadente.
Mais umas voltinhas pelo comércio: compramos uma pequena manta para usar no barco, fomos a um cybercafé e nos recolhemos ao hotel para o banho e o descanso merecidos.
O hotel fica pertinho do Rio Negro e nosso quarto tem vista pra ele. Bem bonita!

O dia seguinte nos prometia bastante agitação. Logo após o café da manhã, fomos novamente até o Teatro, dessa vez certas dos horários de visitação. Feito o reconhecimento de cada coluna e sala do Teatro, voltamos ao hotel. No caminho de volta, compramos mais uma mantinha... disseram que fazia frio à noite no barco...
Fechamos a conta no hotel e rumamos para o porto.
O 11 de Maio nos esperava. Zarpava ao meio-dia.