segunda-feira, fevereiro 19, 2007

A bordo do "Santarém"

Atrasos devem fazer parte do protocolo dos barcos amazônicos. O horário regulamentar de partida do Santarém é meio-dia. Nesse 9 de fevereiro, a previsão de largada era 13h. Zarpamos às 14h45.
Embarcadas, assistimos à entrada de muita gente, carga, planta, colchão.
No mesmo cais estava atracado o barco Nélio Corrêa, de ida para Manaus. No Nélio também embarcava de tudo... até uma parte de um trator, que deu o que ver para ser acomodada no convés inferior do barco.
Cada barco com seus costumes, sua rotina...
O 11 de maio, menor e mais simples que o Santarém, tinha lá as suas vantagens... e desvantagens.
No Santarém não havia o fenômeno que chamei sem-rede. A comida era servida num refeitório no fundo do segundo convés. Era um lugar feio, sujo e quente onde reinava um marinheiro mal-humorado, que nos servia uma comida sem graça e repetitiva. Além disso, para chegar ao local, era necessário cruzar todo o espaço destinado às redes desse convés. Assim, três vezes por dia caminhávamos por entre os redeiros classe A, rumo ao refeitório.
Chamo-os redeiros classe A, porque os que estavam nesse convés pagavam mais para ter um ambiente com ar-condicionado. Entretanto, as janelas permaneciam abertas o dia todo... não havia ar que vencesse o calor. E os redeiros que não estavam na direção das janelas ficavam sem luz e abafados.
Nosso camarote ficava também no segundo convés. Era semelhante ao do 11 de Maio. O banheiro era ligeiramente maior e não cheirava mal. O ar condicionado era gelado... Nossas mantas trazidas de Manaus foram utilíssimas. Os beliches e o corredor ao lado deles eram mais estreitos. Mas tinha uma janela para o rio! Os lençóis que compramos em Santarém vieram a calhar, a roupa de cama era bastante duvidosa. Luxo dos luxos: diariamente uma camareira limpava os camarotes!
No terceiro convés ficavam as suítes, um bar fechado - com algumas mesas, jogos e música ruim - além de uma parte externa com chuveirões.
Triste mesmo era o primeiro convés, onde havia uma enorme concentração de redes e um bar com música, bêbados e cheiro de pipoca de microondas o dia todo.
A carga ficava toda no porão. O barulho dos motores e a vibração produzida por eles eram bem menores que no 11 de Maio.
Celular... só funcionou na saída de Santarém.
Primeira parada: Monte Alegre. Quase 9 da noite. Pensei em descer à terra. Chovia forte! Parada rápida, somente embarque e desembarque de passageiros.
Dia seguinte: acordamos justo na hora da atracação em Almeirim, 7 da manhã. Dessa vez desci à terra. No cais, vendia-se queijo - de manteiga e de coalho. Botos alegres davam cambalhotas atrás do barco. Num zás-trás o barco partiu e, nesse 10 de fevereiro, só parou em Breves, às 23h, quando já estávamos recolhidas ao nosso gelado camarote. Foi um dia inteiro navegando. Entramos no estreito de Breves no meio da tarde. Foram horas e horas de agitação e emoção. Era a parte mais esperada da viagem. Conto TUDO num post especial...
Oito da noite, sob um céu estrelado, sentimos uma diminuição na rotação dos motores. Entrávamos na parte mais estreita do estreito de Breves. Navegamos aproximadamente uma hora com as margens bem próximas ao barco. Pena que era noite!
Na manhã seguinte, a última a bordo, fomos surpreendidas com um café da manhã sem pão... Fim de festa!
Nesse dia viajaríamos pela Baía de Guajará. Isso prometia muito balanço no barco e... enjôo. Para prevenir, tomamos Dramin na noite anterior. Não balançou. Ou será que Dramin dá alucinações?
Bem, alucinante mesmo foi o porto onde o barco atracou na chegada a Belém, depois de 48 horas de viagem. Longe da cidade, no meio de uma favela com um córrego malcheiroso. É o porto particular da companhia proprietária do Santarém e do Nélio Corrêa. Outros barcos param em um porto mais central... Pegamos um táxi até o hotel. Depois soubemos que um dos nossos companheiros de viagem foi assaltado por ali e jogado no córrego. Voltou ao tal porto particular sem a bagagem e todo enlameado.

Um comentário:

  1. Carmem...que fotos lindas são essas?!!
    putz...
    um olhar sensível e seguro.
    Pura beleza.
    beijão
    Fran

    ResponderExcluir