sábado, setembro 21, 2013

50 horas na Groenlândia - Parte 2

Tá, você leu meu post anterior, escrito há quase 15 dias, e chegou a pensar que aquele final patético tivesse resultado em uma depressão incurável que me impediu de seguir contando as mazelas de uma viagem mal sucedida naquelas distantes terras geladas da Groenlândia, não é?
Que nada! A viagem foi boa, os insucessos iniciais se dissiparam e a demora em continuar o relato não teve outro motivo senão a desorganização da agenda, agravada pelos eventos da passagem para a idade sexagenária.
Seguindo viagem, então:
O Angmagssalik Hotel fica num ponto privilegiado da cidade, bem no alto, de frente para o fiorde coalhado de icebergs e margeado por montanhas branquinhas. 
Nosso quarto, apesar de monástico, tinha uma vista espetacular.
Nossa primeira caminhada pelas ladeiras tortuosas e empoeiradas da cidade nos mostrou que as casinhas coloridas eram mais bonitas e singelas quando vistas de longe. Quintais, jardins, rio e mar estavam repletos de entulho: latas de cerveja, bicicletas velhas, eletrodomésticos imprestáveis, carrinhos de bebê enferrujados... uma tristeza sem tamanho.
Ammassalik é o maior povoado da costa leste da Groenlândia, tem cerca de 1400 habitantes, quase todos inuítes.
Simpáticos, os habitantes nos cumprimentavam a cada passo, sempre com uma latinha de cerveja na mão. Os cães, outro grande grupo de habitantes da vila, de férias pela falta de neve, ganiam e latiam sem parar, enquanto seus instrumentos de trabalho, os trenós, esperavam abandonados nas varandas e quintais.
Fazia frio, mas não tanto como esperávamos. 
Havia pouco o que fazer por lá. Percorremos o que poderia ser o centro da cidade, guiadas por um mapa muito simples, quase inútil.
Igreja fechada, hospital, escola, prefeitura, correio, mercado, cemitério e um único cibercafé. Entramos, pedimos um café e recebemos um copo enorme com uma bebida morna. Compramos tickets para o uso da internet, caríssimos, algo como 20 reais por meia hora de navegação. Dá pra imaginar o que rende meia hora de internet num smartphone, com tanta coisa pra ver e contar? E ainda usamos parte desse tempo para trocar algumas palavras com o Ivo, o representante da Ice Tourism, reclamando dos perrengues da viagem.
Voltando às ruas, passamos pelo porto à procura de algum passeio turístico. Quem sabe uma volta de barco pelo fiorde... Nada!
Mais adiante, já próximo do hotel, uma mini-agência de turismo fechada anunciava um passeio de barco programado para o domingo. Mas ainda era sexta-feira e nós partiríamos no dia seguinte...
No hotel, as refeições - incluídas no pacote - eram simples. Comida normal, para turistas. Nada de pratos locais cheios de nomes e ingredientes irreconhecíveis. Ainda bem!
No dia seguinte, um campeonato de futebol entre times da região acontecia ali no campo, bem debaixo da nossa janela, animando a vila.
Enquanto a população torcia por seus atletas, embarcamos de volta a Kulusuk. Mais uma viagenzinha de helicóptero.
Dessa vez éramos as únicas passageiras do vôo. O tempo estava limpo e o piloto nos brindou com algumas voltas panorâmicas pelo fiorde.
Chegamos ao já conhecido aeroporto de Kulusuk e -  \o/  - havia alguém nos esperando. Valeu a reclamação via skype!
Fomos levadas ao Hotel Kulusuk, que era uma cópia mais simples do Hotel Angmagssalik.
Em volta do hotel, nada! Do nosso quarto víamos uma coleção de icebergs muito próximos. Fomos até lá animadas. Enquanto caminhávamos encantadas entre os icebergs, um cano de esgoto vindo do hotel começou a jorrar sobre o lugar. Mais tristeza!
Caminhamos até o porto abandonado. No trajeto, cães e mosquitos.
Tanto mosquito que apesar do lindo entardecer, tivemos que voltar pra dentro do hotel.
Aproveitamos pra usar a cara internet local. Mais meia horinha em contato com o mundo...
Jantamos e nos recolhemos ao quarto, que era uma cópia fiel do que tínhamos em Ammassalik. 
Pela janela, acompanhamos a trajetória do sol.  À meia-noite, a paisagem era essa:
Tivemos o nosso (quase) sol da meia-noite!
Pelo release da agência de turismo, soubemos que Kulusuk tinha cerca de 600 habitantes. E nos perguntávamos onde estariam essas pessoas...
Só soubemos a resposta a essa pergunta no dia seguinte, quando um hóspede do hotel (que também estivera no nosso voo desde Reykjavík e no Hotel de Ammassalik) nos falou sobre a vila.
Sim, existia uma pequena vila, a uns 30 minutos de caminhada do hotel. 
Fomos conferir. Um punhado de casinhas coloridas dispostas em volta de uma baía. 
Nossa visita foi rápida. Entre nuvens de mosquitos, tiramos algumas fotos  e despachamos alguns postais.
No meio da tarde deixamos a grande ilha.
Fotos de nossa passagem pela Groenlândia: aqui, aqui e aqui.

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