segunda-feira, março 20, 2017

As damas de Fatehpur Sikri


Era domingo, mas a gente mal se dava conta dos dias da semana naquele rally pelo Rajastão. 

Tantas cidades. Tantos palácios. Tantos templos. Tantas fortalezas. E um sem fim de histórias e aprendizados. 

E por falar em aprender, vai aí uma listinha de termos que fizeram parte do nosso dia a dia pela Índia:

Mandir = templo
Lembram do Karni Mata Mandir, o templo dos ratos em Bikaner? E o pequeno Meera Mandir, em Chittorgarh? Teve também o Jagdish Mandir, aquele cheio de escadas em Udaipur.

Mahal = palácio 
Só em Jaipur vimos três: Jal Mahal, Palácio do Lago;  Sheesh Mahal, Palácio dos Espelhos  e  Hawa Mahal, Palácio dos Ventos.

Pur = cidade 
Por exemplo, Udaipur: a cidade do marajá Udai Singh II.

Garh = fortaleza 
Chittorgarh; Mehrangarh, um dos maiores da Índia, em Jodhpur; Junagarh, o primeiro que visitamos, em Bikaner.
Nesse domingo chegaríamos a Agra, cidade que abriga o Taj Mahal, a estrela mais brilhante do turismo pela Índia. Mas o Taj seria assunto para o dia seguinte e para um próximo post.

Agra fica em Uttar Pradesh, estado que faz fronteira com o Rajastão que vínhamos percorrendo desde Mandawa. Portanto, esse seria o nosso último dia em terras rajastanis.

No trajeto, conheceríamos mais uma "pur" - Fatehpur Sikri.


Seria também a última viagem com nosso motorista predileto. Ajay, com sua simpatia, suas informações precisas e preciosas e seu jeito discreto, ia nos deixar tão logo chegássemos a Agra. 😢

Saímos cedo. Das primeiras visões da estrada, registramos essas esculturas, enormes e de gosto duvidoso. Verdadeiros "Borba Gato" indianos. 

Cerca de 200 km depois, chegamos a Fatehpur Sikri, cidade construída da pelo imperador muçulmano Akbar em 1569, em estilo indo-islâmico.

Conta a lenda que Akbar não tinha herdeiros e foi à procura da ajuda mística de Salim Chishti, um santo sufi que morava na vila de Sikri. A profecia do santo ditava que o imperador e suas esposas deveriam permanecer em Sikri para que seu pedido se realizasse. Assim, Akbar, que era um grande construtor, planejou uma cidade que seviria de apoio à capital do império, Agra, e a construiu em Sikri.

A profecia se realizou e sua esposa hindu Jodha Bai deu à luz ao primeiro herdeiro do imperador: Jahangir.

Akbar tinha quatro esposas, além de uma infinidade de concubinas. Dizem até que uma das esposas era portuguesa e se chamava Maria.  Cada uma das prediletas do marajá tinha seu palácio dentro dos muros de Fatehpur Sikri.

A mais prestigiada era Jodha Bai, já que foi ela quem lhe deu o tão desejado herdeiro. A ela pertencia o mais luxuoso dentre os palácios que Akbar dedicou às esposas.

Shabistan-I-Iqbal, o palácio de Jodha Bai

Pelo que vimos, o imperador era um fanfarrão. Vejam só, no pátio de seu palácio existe um enorme tabuleiro de damas. O ricaço sentava-se num trono alto e, de lá, manejava as peças do jogo que eram... mulheres. E mais, Akbar ordenava que essas mulheres se movimentassem pelo tabuleiro dançando. 

Rose e eu mostramos como era a coisa. Olhaí:

Foto: Ana Oliveira

Há ainda um palco no centro da piscina destinado a shows de dançarinas para a diversão do todo poderoso, que a tudo assistia sentado em seu trono elevado. 

Foto: Ana Oliveira

Como não pudemos chegar até o palco central para mostrar nossos dotes como bailarinas reais, ficamos na borda da piscina posando para mais uma série de fotos-jacu, todas dirigidas pelo guia-fotógrafo, que indicou a pose recorrente com a mão na cintura.


Bem, nem só de diversão se vivia por ali.
 
No Diwan Khana-I-Am, um enorme pavilhão com colunas entalhadas em arenito vermelho, que funcionava como local de audiências públicas, o imperador ouvia as petições do povo e distribuía justiça a seu modo. Dizem até que ele era auxiliado por elefantes para julgar os casos mais difíceis. Para tanto, Akbar submeteria esses casos ao julgamento do animal, que estava preso a uma enorme pedra ali no meio do gramado. O elefante decidiria a questão e, caso condenasse o réu, o esmagaria com uma única patada. Lendas, nada mais. A verdade é que Akbar, o Grande, era amado e admirado por seus súditos.

Diwan Khana-I-Am

Para as audiências privadas, o imperador usava a monumental Diwan-I-Kas, em cujo centro está o Trono de Lótus, ricamente esculpido no mesmo arenito vermelho.

Fatehpur Sikri teve vida curta. Foi abandonada em 14 anos por causa da escassez de água. Mas teve seu valor reconhecido ao ser elevada a Patrimônio Mundial da UNESCO, em 1986.

Nos 40 km que restavam até Agra, paramos para o almoço no Ganpati Resort & Restaurant. O prato escolhido, dessa vez, foi o paneer tikka.

Anote aí: mais uma palavra bem usada no dia a dia: paneer = queijo.

O final da viagem nos trouxe algumas cenas impactantes, que Ana foi registrando com suas lentes sempre atentas:

Cada um viaja como pode

Bosta de vaca tem suas utilidades. Uma delas: fazer fogo

Sentado - e deitado - à beira do caminho

Descansando

Tinha feira em Agra

Pelas ruas de Agra

Vai ter casamento em Agra

Foi um dia de despedidas: tchau Rajastão! Até logo, Ajay!

Selfie de despedida

2 comentários:

  1. Muito útil o pequeno vocabulário hindu ! Interessante a narrativa. Gostei do poderoso que recorria ao Juiz, Elefante, o qual executava sumariamente , sob as patas, o infrator, (sem passar pelo crivo da segunda instância !!!). As fotos, como sempre, um show à parte .Aguardo novas informações.Sylvio

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    1. Rá, comentário de advogado!
      Os elogios às fotos, passarei para Ana, já que é a autora da maior parte delas.
      Outras histórias virão, aguarde!

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